A história do bairro Capuava se alinha com a saga de quase 200 loteamentos que brotaram em Goiânia a partir da década de 50. Imerso na falta de critérios que permeava a cidade na época, o bairro surgiu sem infraestrutura e em uma região que não oferecia muitos atrativos. Com ingredientes tão semelhantes, o desfecho naturalmente se revelou similar.
O bairro emergiu de forma modesta, com lotes demarcados e ruas abertas – nada além disso. A ausência de estrutura era tão pronunciada que levou a episódios pitorescos, na época trágicos, como o incidente em que um morador afundou sua motocicleta em um atoleiro de uma das ruas do bairro. A ajuda coletiva foi essencial para resgatar tanto a pessoa quanto a moto do lamaçal que, de alguma forma, carregava consigo um brilho dourado.
No entanto, nem todas as situações poderiam ser motivo de piada. A segurança, por exemplo, era um problema real. De acordo com os moradores, uma mata fechada no caminho para o Jardim Nova Esperança era frequentada por criminosos de todos os tipos, para perpetrar delitos ou ocultar cadáveres e produtos roubados.
Foi em 1974 que uma figura ímpar, a italiana Anna Maria Melini, desembarcou no bairro e marcou um divisor de águas para Capuava. Abalada pela precariedade da vida dos moradores, ela tomou a frente e iniciou uma busca por melhorias. A escassez de escolas era sua principal preocupação.
A partir desse ponto, Ana Maria liderou os moradores na luta por serviços e infraestrutura. Com recursos vindos da Itália, construiu o Centro Promocional Todos os Santos, que ainda hoje fornece assistência à região. No entanto, muitas outras melhorias exigiram luta incansável. Os moradores até realizaram um enterro simbólico do prefeito da época, como forma de pressão para que suas reivindicações fossem atendidas.
A união dos moradores sempre foi um traço distintivo da comunidade de Capuava. Se nas horas difíceis estavam todos juntos, imaginem nos momentos de lazer. Nas épocas de desafio, um manancial límpido que cruzava o bairro, como se fosse um presente da natureza, oferecia alívio.
Essa união gerou inúmeras histórias. A primeira igreja católica Cristo Redentor foi erguida em uma praça, ao lado do Centro Promocional. Tempos depois, uma associação de moradores tentou derrubar a estrutura. Foi necessária uma nova batalha para manter a igreja e a escola de pé.
Uma particularidade conhecida apenas por quem vive em Capuava é a divisão informal do bairro em Capuava e Capuavinha, separados por um córrego que servia como área de lazer. Com o tempo, essa divisão está se desvanecendo, assim como as dificuldades que foram superadas gradualmente. Bairros vizinhos também contribuíram para o desenvolvimento do Setor Capuava, assim como construções como o Terminal Padre Pelágio e o Portal Shopping, que trouxeram mais serviços e comércio.
Os moradores reconhecem que o bairro poderia estar em um estado melhor, mas quem testemunhou as adversidades e viu a transformação de Capuava não pode deixar de sentir orgulho e até mesmo amor pela região e pelos vizinhos. Para Ana Maria, a figura que desempenhou um papel fundamental na mudança do bairro, nem mesmo a vastidão de um oceano poderia fazê-la deixar Capuava.
Fonte: https://goiasdenorteasul.com.br/
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